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Índios guatós comemoram chegada de internet em aldeia no Pantanal

Imagem de videoconferência entre indígenas e representantes da Justiça do Trabalho e da PMA
Videoconferência entre indígenas e representantes da Justiça do Trabalho e da PMA

 

"É um dia histórico para a comunidade guató", comemorou Laucídio Corrêa da Costa, vice-cacique e coordenador pedagógico da Escola Estadual Indígena João Quirino de Carvalho - Toghopanãa, durante videoconferência realizada na manhã de hoje (20), diretamente da aldeia com representantes da Justiça do Trabalho de Mato Grosso do Sul e da Polícia Militar Ambiental.

Cerca de duzentos indígenas que vivem isolados na aldeia Uberaba, localizada na Ilha Ínsua, a cerca de 330 km de Corumbá-MS, receberam sinal de internet, a única forma de comunicação com a sociedade externa, já que na aldeia não tem serviço de telefonia. "A comunidade fica realmente isolada. A gente precisava dispor de 15 km até o Posto do Exército para fazer comunicação com a cidade", explica Laucídio. Já para chegar em Corumbá, precisam pegar um barco e navegar durante quase dois dias.

 

Crianças durante a divulgação do Programa de Combate ao Trabalho Infantil
Divulgação do Programa de Combate ao Trabalho Infantil

 

A instalação da internet via satélite foi proporcionada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região e pelo Ministério Público do Trabalho com aplicação de recursos trabalhistas. O pedido foi feito pelos indígenas à Justiça do Trabalho e à Polícia Militar Ambiental durante a 5ª Expedição de Educação Ambiental no Pantanal, organizada pela PMA em parceria com instituições públicas e ONGs, em dezembro do ano passado. O desembargador do TRT/MS João de Deus Gomes de Souza e o juiz do trabalho Márcio Alexandre da Silva estiveram na comunidade no mês passado para divulgar o Programa de Combate ao Trabalho Infantil e se sensibilizaram com a dificuldade de acesso e comunicação dos ribeirinhos.

Hoje, os magistrados participaram da conexão simbólica que marcou esse novo tempo para os guatós. "Eles relataram a necessidade de ter um sinal de internet na localidade, por vários motivos. Primeiro a distância, eles estão absolutamente isolados da cidade. Há um problema muito grande de chegar na aldeia, que demanda muito tempo de viagem por rio. E nos sensibilizou bastante a questão da escola local que, segundo o coordenador Laucídio, toda vez que ele precisava lançar as notas das crianças no sistema da Secretaria de Educação tinha que se deslocar, por um dia e meio, até Corumbá para fazer esse trabalho. Com valores que são provenientes de multas trabalhistas a gente pode atender essa solicitação da aldeia", esclareceu o juiz do trabalho Márcio Alexandre da Silva.

O desembargador João de Deus Gomes de Souza afirmou que esse é um momento ímpar para os indígenas e a Justiça do Trabalho. "Eu vi ali os excluídos do mundo. Nós conversamos com a comunidade e vimos um povo totalmente isolado. Eu espero que, com essa semente plantada, nós possamos avançar na distribuição da justiça social", enfatizou o magistrado que lembrou que, no final do ano passado, o TRT/MS levou material esportivo para a escola local, como forma de estímulo ao esporte e diminuição da evasão escolar, iniciativa do Programa Nacional de Combate ao Trabalho Infantil.

Para o presidente do TRT/MS, o trabalho realizado na aldeia demonstra a missão social dos magistrados e dos recursos provenientes de multas trabalhistas, que devem ter uma destinação nobre. "É muito importante quando a Justiça do Trabalho se aproxima da população que mais necessita de apoio. Hoje, o acesso à internet e à rede mundial de computadores é, sem dúvida também, um exercício de cidadania", ponderou o desembargador Amaury Rodrigues Pinto Junior.

A mensalidade do serviço de internet será custeada pelas famílias indígenas. O sinal também atenderá a Escola Toghopanãa. A logística de instalação e deslocamento foi proporcionada pela PMA. "A Polícia Militar Ambiental vai para a região e, as vezes, fica uma semana em operação. Essa comunicação é muito importante para nós também", afirmou o capitão Diego Ferreira da PMA.

 

Imagem da vista aérea das casas da Aldeia Uberaba
Vista aérea das casas da Aldeia Uberaba

 

Quem são os guatós?

De acordo com o antropólogo e historiador Giovani José da Silva, a terra indígena guató é uma área de cerca de 10 mil hectares que fica na região noroeste de Corumbá. Os únicos acessos à aldeia Uberaba são por vias fluvial ou aérea. A base alimentar dos indígenas é a pesca, caça e a agricultura com o plantio de mandioca, milho e cereais.