A violência contra a mulher ainda é uma realidade silenciosa em milhares de lares brasileiros. Ações de conscientização, como as promovidas pela Ouvidoria da Mulher do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (TRT/MS), têm ajudado as vítimas a reconhecerem situações de abuso e romperem ciclos de violência.
Foi o que aconteceu com a Júlia*. Depois de participar de eventos promovidos pela Ouvidoria, ela compreendeu que estava num relacionamento abusivo. “Trabalho no TRT desde 2013 e só nas palestras que percebi que tudo o que eu vivia era violência. Eu achava normal meu marido quebrar minhas coisas quando estava bravo, mas entendi que isso era violência patrimonial e moral”, relatou.
Segundo ela, o contato com a equipe de apoio do Núcleo de Saúde e Programas Assistenciais do TRT/MS e os debates realizados nos encontros foram decisivos para transformar sua percepção. “Depois desses eventos, comecei a conversar com minhas filhas para que nunca aceitem nem um empurrão. Até meu companheiro, quando assistiu a uma das palestras, chorou e me pediu perdão.
Foi esclarecedor dentro da minha casa. Acho muito importante o Tribunal continuar promovendo esse tipo de evento, porque do mesmo jeito que tocou em mim, tocou em muitas outras mulheres que também precisavam. Compartilhei o link com conhecidas e familiares, e algumas me disseram que achavam normal o que viviam, até perceberem que também era violência”, contou.
Para ampliar esse debate, a Ouvidoria da Mulher vai promover no próximo dia 10 de outubro, das 13h30 às 17h, o evento “Igualdade em Debate: Justiça do Trabalho, Violência Doméstica e Liderança Feminina”. A programação terá dois painéis temáticos. A data marca também o Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher, que começou em São Paulo, quando mulheres se reuniram nas escadarias do Teatro Municipal para protestar contra o aumento dos crimes de gênero em todo o Brasil.
Segundo a Ouvidora da Mulher, juíza Ana Paola Emanuelli Balsanelli, a iniciativa reforça a importância da mobilização coletiva. “Este evento nos convida a refletir sobre o papel da liderança feminina e a urgência do enfrentamento à violência doméstica. Ao fortalecer a igualdade de gênero, fortalecemos também a Justiça e a sociedade, construindo caminhos de respeito, dignidade e transformação”, destacou.
Além do evento, a Ouvidoria da Mulher do TRT/MS realiza ao longo do mês de outubro uma Campanha de Combate à Violência contra a Mulher, com a veiculação de outdoors em pontos estratégicos de Campo Grande, propagandas em rádio e vídeo, além de mensagens nas redes sociais, reforçando a importância da conscientização e do enfrentamento desse tipo de violência.
O debate se faz necessário diante dos números alarmantes. Somente em 2025, 15.783 mulheres sofreram violência doméstica em Mato Grosso do Sul, segundo o Monitor da Violência contra a Mulher. A maioria das vítimas é parda (8.899), seguida de brancas (4.530), pretas (849) e indígenas (454). A faixa etária mais atingida está entre 30 e 59 anos (8.743 mulheres). O espaço da residência continua sendo o principal local das agressões (11.577 casos), e o cônjuge aparece como o autor mais frequente (2.624 ocorrências).
*Júlia é um nome fictício dado a uma personagem real que teve a identidade preservada.